Você sabia que é possível medir a qualidade de vida do seu cão?

Por Tabatha Kalenski

25 de Outubro de 2022

Você sabia que é possível medir a qualidade de vida do seu cão?

Você gostaria de viver por muitos e muitos anos? Algumas pessoas diriam que sim, outras têm medo do sofrimento que poderiam enfrentar em um corpo envelhecido. Todos parecem concordar que mais importante do que a quantidade é a qualidade do tempo a ser vivido.

Está cada vez mais presente a preocupação em proporcionarmos uma boa vida aos nossos pets, mas você saberia quantificar a qualidade de vida do seu animalzinho? Esta avaliação costuma ser subjetiva, variável entre pais e mães de pets. Justamente por isso, surgiu a necessidade de ferramentas que identifiquem de forma mais objetiva a qualidade de vida dos animais.  

Hoje existem alguns questionários e escalas com perguntas que podem ser respondidas pelos tutores e ao final pontos são somados gerando uma nota que indica o grau de qualidade de vida do animal. Alguns destes questionários estão disponíveis na internet e um exemplo é a escala “HHHHHMM” que foi desenvolvida nos Estados Unidos por uma médica veterinária e é um acrônimo, que vem do inglês: Hurt (dor), Hunger (fome), Hydration (hidratação), Hygiene (higiene), Happiness (alegria), Mobility (mobilidade) e More good days than bad days (mais dias bons do que ruins).

Além de dar nota para a qualidade de vida do pet naquele momento, como uma fotografia instantânea, também é possível fazer um comparativo ao longo do tempo ao responder o questionário para um mesmo cão após algumas semanas. Outra utilidade destes questionários é avaliar o resultado do tratamento pra doenças específicas que, em geral estão fora da possibilidade de cura. Por exemplo, há questionários para avaliação da dor de cães com doenças articulares, para avaliação da qualidade de vida de cães com câncer, entre outros.

O envelhecimento e o surgimento de doenças crônicas apresentam impacto na qualidade de vida. Diante da necessidade de proporcionar bem-estar para pessoas ou animais que apresentam doenças que ameaçam a continuidade da vida, surgiu a especialidade multidisciplinar de cuidados paliativos.  

A função do paliativista, seja na veterinária ou na medicina, é eliminar ou amenizar os sinais de desconforto físico e mental que acometem os indivíduos que apresentam doenças sem cura. Ainda que não exista cura para a doença, sempre há o que ser feito pelo paciente: tratar sinais de dor, náusea, vômito, falta de apetite, cuidar da higiene e do conforto, alimentar e hidratar corretamente, preparar a família para viver este momento, entre outros.

Mas afinal, o que podemos fazer, para melhorar a qualidade de vida dos nossos pets? Devemos atuar em 4 frentes para oferecer conforto aos nossos pets, vaja quais são elas:

 

1 - Visitas frequentes ao profissional de veterinária

Antes de mais nada é importante quebrar alguns paradigmas! Algumas condições, como por exemplo a redução da mobilidade e a má conservação dos dentes, ainda são erroneamente associadas ao envelhecimento, quando deveriam ser tratadas para evitar o sofrimento dos pets.

A redução da mobilidade, na maioria das vezes é um sinal de dor causada por doenças articulares, para as quais não há possibilidade de cura, mas há tratamento e este cuidado não deve ser negligenciado.

O tratamento odontológico em animais exige anestesia, já que não é possível pedir ao pet que fique com a boca aberta aguardando enquanto o dentista veterinário faz seu trabalho. Embora as medicações e as técnicas utilizadas para anestesiar tenham evoluído e se tornado procedimentos muito seguros, ainda há um mito de que o risco de morte durante a anestesia é um fantasma que devemos temer. O tártaro, a gengivite e a inflamação oral, além de causarem dor, levam a riscos muito mais altos do que a anestesia, podendo causar até a endocardite – infecção dentro do coração – pela migração das bactérias da boca através da circulação sanguínea.

As visitas periódicas ao veterinário também são importantes para que os diagnósticos sejam feitos de forma mais precoce possível, aumentando as chances de recuperação, ou então para acompanhar a evolução de uma eventual doença sem cura, com a finalidade de ajustar a terapia.

 

2 - Adaptação do ambiente

É importante verificar (e o veterinário pode ajudar com isso) se o pet apresenta alguma necessidade especial em relação ao ambiente. Veja alguns exemplos:

  • Animais com problemas no quadril não devem correr e derrapar em piso liso;
  • Animais com lesão no joelho não devem saltar, precisam de rampas ou escadinhas para subir e descer de camas e sofás;
  • Animais com lesão na região cervical precisam de comedouro e bebedouro elevados, pois sentem dor no pescoço;
  • Animais com baixa visão ou problemas cognitivos precisam de espaços desimpedidos e sem mudança frequente na localização dos móveis.

Pequenas adaptações podem causar grande melhoria na qualidade de vida dos pets.

 

3 - Ajustes nos cuidados

Neste ponto, precisamos pensar em alimentação, hidratação e higiene.

Ao longo da vida, podem acontecer mudanças no paladar dos pets. Eles podem deixar de gostar de determinados alimentos ou marcas de alimentos e passar a gostar de outros. Especialmente os idosos, podem precisar de alimentos mais saborosos para continuarem ingerindo a quantidade correta de comida. O tipo de alimentação a ser oferecido também varia de acordo com a presença de alguma doença crônica e, nestes casos, só o veterinário poderá orientar a respeito da nova “menu”.

Estimular a hidratação deixando potes de água disponíveis em vários cômodos da casa pode ser necessário, já que alguns pets acabam por ingerir pouca água se precisarem se deslocar muito para chegar ao bebedouro.

Cuidados com a higiene também precisam ser observados. A oleosidade da pele e dos pelos pode variar ao longo da vida, o que pode influenciar a frequência dos banhos necessários para manter a pele saudável. Limpeza com lenços umedecidos pode ajudar!

 

4 - Proporcionar momentos de alegria

Um cão que adorava correr em seus passeios pode preferir caminhadas mais leves, com menor duração e maior frequência, ou seja, pode preferir passear 10 minutos 3 vezes ao dia do que 1 hora 1 vez ao dia. O convívio social, com outros cães ou com pessoas é muito benéfico e deve ser mantido. Observar seu peludo para entender as preferências e ajustar os momentos de alegria é muito importante!

Com estas dicas vai ficar muito mais fácil de entender se seu pet apresenta uma vida boa e o que fazer para mantê-lo bem em todas as fases, sempre com um olhar para a qualidade dos dias e não para a quantidade deles.

Escala de Qualidade de Vida (HHHHHMM)  
Os tutores podem usar esta escala para determinar o sucesso dos cuidados paliativos. Dê notas ao paciente, usando uma escala de 0 a 10 (10 sendo a condição ideal)
EscoreCritério
0-10Hurt (dor): o controle adequado da dor e a habilidade de respirar bem devem ser a preocupação principal, e estão acima de todos os outros critérios. A dor do cão parece estar sob controle? O cão consegue respirar normalmente? Ele precisa receber suplementação com oxigênio?
0-10Hunger (fome): o cão está comendo o suficiente? Ele precisa de ajuda para conseguir se alimentar? Ele precisa de um tubo de alimentação?
0-10Hydration (hidratação): o cão está bem hidratado? Para pacientes que não consigam beber água o suficiente, pode ser necessária a aplicação de fluidos subcutâneos.
0-10Hygiene (higiene): o cão deve ser mantido escovado e limpo, especialmente depois de fazer as necessidades. Previna escaras de decúbito usando uma caminha macia, e mantenha todas as feridas limpas.
0-10Happiness (alegria): o cão demonstra prazer e interesse? Ele responde a familiares, brinquedos, etc.? Ele parece deprimido, solitário, ansioso, entediado ou assustado? A cama do cão poderia ser movida para um local mais próximo de onde a família passa a maior parte do tempo?
0-10Mobilty (mobilidade): o cão consegue se levantar sem ajuda? Ele precisa do auxílio de um humano ou acessório (carrinho, por exemplo)? Ele tem vontade de passear? O cão apresenta convulsões, ou se desequilibra? (alguns tutores consideram a eutanásia preferível à amputação, mas um animal com mobilidade reduzida porém alerta e responsivo pode ter boa qualidade de vida, contanto que os tutores se dediquem a ajudá-lo).
0-10More good days than bad (mais dias bons do que ruins): quando os dias ruins são mais frequentes do que os dias ruins, a qualidade de vida pode estar comprometida. Quando um elo saudável entre humano e cão não é mais possível, o tutor deve estar ciente de que o fim está próximo. A decisão pela eutanásia deve ser tomada se o cão estiver sofrendo. Se a morte vier pacificamente e sem dor, está tudo bem.
Total* Um escore final acima de 35 pontos indica uma qualidade de vida aceitável para se prosseguir com os cuidados paliativos.
 Fonte: “Canine and Feline Geriatric Oncology: Honoring the Human-Animal Bond”, por Alice Villalobos
 
 
 

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